segunda-feira, 29 de julho de 2013

Análise - Animal Crossing: New Leaf

Um jogo sobre a simplicidade, o tempo e as relações humanas, isento das complexidades e frustrações da vida real

Em tempos de Facebook , é difícil pensar em jogos sociais ou casuais como algo empolgante. Enviar e receber solicitações de amigos (ou desconhecidos) e esperar horas para que uma barrinha seja preenchida, apenas para receber uma nova (e maior) barrinha vazia, que pode ser preenchida instantaneamente mediante o pagamento de dinheiro real, são as coisas que vêm na mente ao falarmos de jogos sociais. Não é difícil constatar que tais jogos, inseridos no modelo free-to-play, são construídos para atrair o maior número de jogadores ativos e pagantes possíveis, a partir de mecânicas virais e viciosas, que em nada tem a ver com os jogos que crescemos jogando. Nesse mar de jogos free-to-play, é aliviante ver como Animal Crossing: New Leaf , que pode ser considerado um jogo social e casual dentro dos paradigmas da indústria, não foi contaminado por tais mecânicas.
No simulador da Nintendo para o 3DS , você assume o papel do prefeito de uma vila bucólica, construindo uma vida neste pequeno universo, enquanto interage diariamente com seus habitantes e realiza tarefas simples e cotidianas. Plantar árvores, coletar frutas, procurar por fósseis, pescar, mobiliar sua casa, colecionar insetos, vender itens, visitar amigos em suas cidades e desenhar roupas são apenas algumas das atividades que compõem a plácida experiência de Animal Crossing: New Leaf.
Parte da magia de Animal Crossing está relacionada à passagem do tempo, que transcorre como no mundo real do jogador. O tempo rege o comportamento dos habitantes (que reclamam do sono ao acordar de manhã, apreciam um dia claro e ensolarado etc.), determina a abertura e fechamento das lojas e estabelece eventos temporários e comemorativos. Com um pouco de aleatoriedade, cada dia em Animal Crossing é um novo dia, com novos acontecimentos. Dia-a-dia, em doses homeopáticas, o jogo vai te suprindo de possibilidades: a inauguração de uma nova lojinha, um campeonato de capturas de insetos, a chegada de um novo morador, uma máquina leitora de QR codes que permite o compartilhamento e importação de roupinhas e por aí vai.Os personagens parecem possuir vida própria: te desejam bom dia, fofocam sobre o novo vizinho, pedem conselhos, agradecem favores com presentinhos, fazem comentários sobre algum amigo que tenha visitado sua cidade recentemente e contam histórias sobre a vida pura e simples - cada um à sua maneira, com sua própria personalidade. Às vezes te mandam uma cartinha, mesmo morando a alguns metros de distância, lembrando de algum acontecimento recente. Poucos jogos parecem ter uma memória de si próprio como este.
As vezes a sensação de jogar New Leaf é a de estar construindo uma vida paralela, mas sem as complexidades e frustrações do mundo real. Os animais que habitam sua vila são, quase sempre, honestos, felizes e simpáticos e o simples ato de presentear um amigo com uma fruta que não existe em sua própria cidade,  pode ser um ato de extrema generosidade. Algo aqui nos torna essencialmente bons, e mais do que em qualquer "jogo social", compartilhar é algo significante e gratificante, mesmo quando você não recebe nada em troca.
Cada cidade é única e visitar um amigo significa não apenas ter contato com novos habitantes e espécies de plantas, peixes e insetos (valiosos dentro da filosofia colecionista que envolve o jogo), mas também ver como ela e seu avatar refletem muito de sua própria personalidade. Animal Crossing: New Leaf permite modificar seu personagem com peças de roupas, acessórios e cortes de cabelo dos mais variados tipos, sem estabelecer limites em função de seu gênero. Para um jogo sobre comunicação e socialização, em que autoexpressão é parte integral da experiêcia, a possibilidade de construir sua própria identidade, sem preconceitos ou normas sociais, é um grande triunfo. O fato denão ser possível construir um avatar negro , contudo, ainda mais levando em consideração a liberdade de expressão de New Leaf, é lamentável.
Embora seja um "jogo social" (novamente, bem diferente do que o termo pode nos remeter), a Nintendo ainda mantém suas políticas restritas de comunicação, dificultando o contato direto entre os jogadores, como as mensagens instantâneas in-game, que existem, mas são limitadas e requerem um processo chato. Conectar-se à cidade de um amigo também é um pouco burocrático, existindo dentro da metáfora de que todas as cidades são ligadas por uma ferrovia, sendo necessário tomar um trem para viajar longas distâncias (ou seja, se conectar à internet). Não são procedimentos muito eficientes, mas funcionam bem na realidade de Animal Crossing.
Animal Crossing: New Leaf é um jogo adorável, que evoca sensações agradáveis e sentimentos positivos, sem ser meramente infantil ou tolo. É como um pequeno universo de bolso, no qual cada visita rende algumas breves doses de serotonina. Ele simula a vida, o cotidiano, o tempo e as relações humanas, onde as ações mais mundanas podem estampar os maiores sorrisos. 

Nota: 4 de 5

Animal Crossing: New Leaf 
Desenvolvido e distribuído pela Nintendo 
Disponível para o 3DS em versões física e digital 

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