Na web, boatos viram notícia. Como e por que isso acontece?

Muita gente se indignou com a oferta absurda de "gatos bonsai" vendidos pela internet no início dos anos 2000. A repercussão foi tamanha que o caso foi parar nos jornais mais respeitados do mundo. E o "suposto" turista que teve seu rosto estampado nesta foto ficou bem conhecido depois dos atentados de 11 de setembro. O homem teria sido fotografado segundos antes de um avião atingir uma das torres do World Trade Center, em Nova York, e muita gente acreditou! Esses dois casos são exemplos de uma infinidade de boatos que surgem na internet todos os dias. De carona na ingenuidade de uma enorme massa de internautas e, principalmente, de muitos jornalistas e blogueiros, o jornalista Marcelo Zorzanelli criou um site especializado em criar boatos. "O site nasceu de uma necessidade de brincar com a própria profissão, de pegar os clichês da notícia, até da sensacionalista, onde a tragédia e a pobreza são exploradas, e fazer matérias que ficassem engraçadas. No 1º ano, praticamente todos os dias, havia algum jornal do Brasil que reproduzia uma matéria nossa, achando que era verdade. Esse nunca foi nosso objetivo mas, infelizmente, dentro do jornalismo há pessoas que não têm a curiosidade de checar a informação", afirma. Tanto isso é verdade, que o site dele criou um dos maiores boatos da internet até hoje. A falsa notícia falava sobre uma mulher branca norte-americana que teria engravidado de um bebê negro ao assistir um filme pornô em 3D no cinema. É, pode rir, mas a notícia foi parar em jornais do mundo todo e teve grandes repercussões! Mais ainda depois que eles ligaram o fato a uma foto aleatória encontrada na rede... "Os amigos descobriram e começaram a pegar no pé dela. Ela mandou um e-mail para nós, dizendo que pessoas na rua estavam acusando-a de ter traído o marido. O advogado dela também veio pra cima. Pedimos mil desculpas, colocamos um pedido de desculpas no site, explicamos que não tínhamos esse objetivo, que foi tudo sem querer e um grande mal entendido. Mas ficou complicado, porque essa matéria foi vista por 1 milhão de pessoas", explica Marcelo. Só para se ter uma idéia da força de tal boato, o site do Marcelo passou, em questão de uma semana, de 10 mil acessos diários para 1 milhão de visitantes todos os dias. Era tudo o que eles queriam... Marcelo diz que, aí, o humor fica melhor ainda: "Por exemplo, eu escrevi uma matéria que falava de um casal gay carioca que resolveu adotar um surfista de 25 anos. Isso é um absurdo: quem adotaria alguém de 25 anos? Naquela mesma hora, o maior site gay do Brasil 'comprou' a história, achando que era verídica e a defendendo. O maior site evangélico do Brasil também, só que atacando. Ninguém se preocupou em ver a mensagem no rodapé de nosso site que diz 'tudo é mentira, são piadas', e ficaram brigando por um tempo". Mais do que humor e diversão, esse trabalho paralelo do pessoal do "Sensacionalista" é uma verdadeira crítica ao jornalismo atual. Marcelo diz que "a maior causa de morte no jornalismo é a ingenuidade". Esse negócio de criar boatos deu tão certo que foi parar na TV, em uma espécie de telejornal de mentirinha, mas que também já pregou peça em muita gente. Por exemplo, com a notícia de que uma modelo brasileira estaria decidida a implantar o terceiro seio. Ainda hoje surgem diversos fatos duvidosos na internet o tempo todo. Por isso, quem escreve ou publica, já tem um pé atrás antes de reproduzir qualquer coisa. Carol Matos, jornalista declara: "Tem muita brincadeira, muita piada. Eu sou jornalista e é questão de credibilidade. Você precisa, necessariamente, apurar uma fonte para confiar, ou não, nela". E parece que os mais conectados também já estão vacinados... Natan Luis de Moraes, vlogger, diz que "é preciso ter que procurar saber mais, antes de afirmar alguma coisa. O bom da internet é isso: você procura saber mais, tem outros pontos de vista". Já Edson Rocha, analista de sistemas, acha que "a internet tem um conteúdo muito diverso. Também não acredito em tudo que vejo na televisão, escuto no rádio e panfletos e coisas do tipo. Você precisa filtrar o conteúdo, não importando a ferramenta". Por isso, fique esperto, você também, antes de acreditar em qualquer coisa que vê ou lê pela frente. Às vezes, é melhor desconfiar. Mas se você quiser se divertir e dar boas risadas, nós separamos o link desse site cheio de boatos online.